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Mensagem por Ava Blackthorn Qui Fev 11, 2021 5:35 pm


ava blackthorn

Ava Blackthorn
Ava Blackthorn
Feiticeiros de Circe
Localização :
new orleans

Idade :
24

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Mensagem por Ava Blackthorn Sex Jul 01, 2022 9:02 pm


make a sacrifice


— 5 de dezembro de 2012, New Orleans

Os olhos de Ava se abriram repentinamente, como se algo houvesse perturbado o seu sono. Achou que tivesse sido um sonho, no início, mas logo começou a ouvir passos desesperados subindo as escadarias. Aquilo era estranho. Durante todos os seus 13 anos, nunca tinha ouvido nenhum barulho durante a manhã, pois os irmãos estavam todos dormindo, e o pai — juntamente com a madrasta — estavam ocupados trabalhando no antiquário, que ficava embaixo da casa. Por causa disso, levantou-se apressadamente e foi conferir o que estava acontecendo. Preparou-se para gritar com Rupert, que era sempre o responsável pela bagunça, mas se surpreendeu ao ver o pai no final do corredor.

— Pai? Está tudo bem? Achei que você e Meredith estivessem trabalhando.

— Ava! Ah, é tão bom que esteja acordada. Precisamos conversar.

No mesmo momento, todos os músculos de Ava pareceram rígidos. Dimitri Blackthorn não era do tipo de homem que enrolava antes de falar alguma coisa, então o assunto era realmente preocupante. Estremecendo, deu passos instáveis para se aproximar do pai.

— Aconteceu alguma coisa?

O pai pareceu hesitar antes de, desesperadamente, começar a falar.

— Bem, você sabe que Marvin tinha uma consulta hoje de manhã. A vizinha iria levá-lo, pois eu e Meredith estaríamos trabalhando… mas acontece que não estamos o achando em lugar algum! Claro, olhamos em seu quarto, e a cama sequer está desarrumada; vasculhamos toda a casa, até mesmo as câmaras secretas, e ele com certeza não está aqui; e não há outro lugar para ele estar! Marvin só tem quatro anos, não tem como ter fugido.

Se fosse possível ficar mais ser ar do que já estava, Ava teria ficado. Entretanto, apenas levou as mãos à boca e esperou alguns segundos para o cérebro processar a informação. Primeiramente, cogitou a possibilidade do pai simplesmente não ter achado Marvin pela casa, mas sabia que aquilo não era possível. O homem conhecia todos os cantos da residência, sem nenhuma exceção.

— O que vamos fazer?

— Faça o seguinte: ande pela cidade, mostre uma foto de Marvin às pessoas e pergunte se o viram por aí. Eu e Meredith não contaremos ainda para as crianças… mas se não o achar até quatro da tarde, volte para casa. Teremos de dizer a verdade.

Sem questionar, Ava concordou e entrou para o quarto. Não estava raciocinando muito bem, mas vestiu uma roupa qualquer e pegou do seu mural de fotos uma em que estava apenas Marvin. Como os outros três irmãos ainda estavam dormindo, saiu de casa silenciosamente para não acordá-los; afinal, não queria que se preocupassem ainda.

O dia foi longo. No calor, andou por todo o centro da cidade de New Orleans, perguntando tanto aos turistas quanto aos residentes se tinham visto Marvin. Alguns pensavam mais, outros menos, mas ninguém afirmava saber do paradeiro da criança. Ava, que inicialmente estivera confiante, passou a ficar preocupada e triste ao longo do tempo. Como chegaria em casa de mãos vazias? Não havia se preparado psicologicamente para aquilo.

Mas, no final, teve de enfrentar a situação. As mãos tremiam quando, às quatro e meia da tarde, abriu o portão de casa. Subiu as escadas lentamente e, quando finalmente chegou em frente a porta da sala de estar, teve de engolir o choro antes de entrar.

O pai, a madrasta e os três irmãos restantes estavam sentados nos sofás brancos e confortáveis. As crianças pareciam contentes e descontraídas, rindo de qualquer coisa que Rupert falava, mas Dimitri e Meredith estavam claramente tentando esconder a tristeza. Quando avistaram Ava parada na porta, sozinha, o terror se apoderou deles.

— Nada? — Perguntou Meredith.

Negando, Ava se aproximou da família e se sentou com os irmãos. Estes, que finalmente notaram o clima tenso, calaram-se e começaram a prestar atenção no assunto.

— O que está acontecendo, mamãe? Onde está Marvin? — Perguntou Nerissa, de apenas seis anos. Julian, de oito anos, e Rupert, de três, também começaram a fazer perguntas. Apenas com um erguer de mão, Dimitri calou a todos.

— Temos uma… notícia para dar a vocês. Ava não estava com Marvin durante a tarde. Na verdade, não sabemos onde o irmão de vocês está. Hoje de manhã, quando fomos acordá-lo para a consulta, ele não estava no quarto. Não estava em lugar nenhum da casa.

As três crianças começaram a falar descontroladamente, exasperando-se com a notícia. Todos os cinco irmãos eram muito unidos e, portanto, estavam abalados com o que Dimitri falava. Não podiam continuar vivendo sem Marvin!

— Eu o procurei durante a tarde inteira! — Falou Ava, fazendo com que sua voz se elevasse em comparação às outras. — Ninguém o viu recentemente em lugar algum.

Por alguns segundos, um silêncio se estabeleceu na sala. Meredith estava com a cabeça entre as mãos, e Dimitri apenas encarava o nada. As crianças, entretanto, tinham os olhos arregalados e a boca aberta. De repente, a voz de Julian — triste e com raiva — assustou a todos.

— Isso é tudo culpa de vocês! De vocês: papai e Ava! Vocês se acham portadores da magia, cartomantes, ou sei lá o que, mas todos nós não passamos de pessoas comuns! É uma pura coincidência que temos orelhas pontudas, pois não descendemos de fada coisa nenhuma! É tudo mentira! E agora Marvin foi raptado provavelmente por alguém que odeia tudo o que fingimos ser…

Revoltado, Julian se levantou e subiu as escadas com um barulho assustador. Ava suspirou profundamente, entristecendo-se com a atitude do irmão. Ao contrário de Nerissa, Marvin e Rupert, que adoravam ser de uma família mágica que descendia das fadas, Julian nunca havia gostado disso. Na verdade, nunca havia sequer acreditado. Sempre que tocavam no assunto, o irmão se enraivecia e começava a ser grosso. Ava sempre achara que era apenas uma fase, mas agora não tinha tanta certeza; nenhuma fase durava oito anos.

— Não fique triste, A — comentou Rupert, percebendo o que a irmã sentia. O garoto, apesar de ser o mais bagunceiro e brincalhão de toda a família, era também o mais empático. Sempre sabia o que os outros sentiam. Desse modo, Ava apenas sorriu.

Os pais pareciam aéreos demais para se darem conta do que estava acontecendo, então Ava se responsabilizou por cuidar das crianças. Já estava acostumada, afinal. Puxando-os pelas mãos, levou-os até o segundo andar, onde ficavam os seus quartos.

— O que iremos fazer, A? — Perguntou Nerissa, com lágrimas nos olhos.

Ava não sabia. Mas, sem poder falar isso às crianças, sorriu e as abraçou.

— Não se preocupem. Iremos achar Marvin.

[ ... ]

— 8 de junho de 2013, New Orleans

Após seis meses, ainda não haviam achado Marvin. O pai de Ava estava utilizando de todos os recursos que possuía — o que não era pouco —, mas o garoto parecia ter desaparecido sem deixar nenhum rastro. Àquela altura, o clima dentro de casa era sempre ruim: Julian era grosso com todos, Nerissa parecia estar sempre chorosa, Rupert sequer brincava mais, Meredith quase nunca saía de seu quarto e Dimitri raramente estava presente, pois buscava pelo filho constantemente. Ava parecia ser a única a manter a sanidade.

A garota assumira o controle do antiquário, de modo que tanto cuidava das antiguidades quanto fazia o papel de cartomante. Era boa nas duas coisas, e trabalhar parecia amenizar a tristeza que constantemente sentia. Durante o seu tempo livre cuidava dos irmãos, que se sentiam bastante abandonados pelos pais. Basicamente, havia assumido o controle da casa.

Sentia-se madura demais para sua idade, mas não tentava lutar contra aquilo. O destino havia a escolhido para passar por aquelas coisas, e acreditava que a situação teria algum impacto em seu futuro. Assim, enquanto se comportava como uma adulta, torcia para o pai encontrar o irmão. Suas esperanças estavam quase acabando, entretanto. Dentre todos da família, ela e o pai pareciam ser os únicos que ainda acreditavam que Marvin estava vivo.

De todo modo, numa noite fresca e tranquila de sábado, Ava estava deitada na sala de estar com Nerissa e Rupert. A madrasta e o outro irmão estavam nos respectivos quartos, mas os três se juntaram para ver um filme qualquer que os distraísse. Não tinham sequer visto os 20 primeiros minutos do filme quando o pai chegou em casa, frenético e empolgado.

— Rupert e Nerissa, vão chamar os outros! Tenho novidades para vocês.

Vendo a empolgação do pai, os dois sequer questionaram. Desataram a correr escada acima, enquanto Ava apenas observava a cena. Tinha medo de perguntar, apesar do estado do pai. Assim, esperou que todos chegassem, não se ousando a dizer uma palavra sequer antes disso. Se fosse algo ruim, não desejava ser a primeira a saber.

— E então, pai? O que aconteceu?

— Consegui informações sobre Marvin! Uma antiga conhecida voltou de viagem hoje, após 10 meses na França, e pude ir visitá-la atrás de informações. Mesmo que não estivesse aqui, ela sempre sabe de tudo que acontece… — uma nota de inveja pôde ser ouvida na voz de Dimitri, mas ninguém deu atenção. Estavam ávidos pelo final da narrativa. — Acontece que ela realmente sabia algo sobre seu sumiço. Tive que pagar, claro, mas ela me contou tudo: Marvin foi raptado pelo demônio Kaptos, e agora tenho a localização dele!

Um silêncio pairou pela sala. Estavam esperando algo mais… comum, talvez? Provavelmente. Apesar disso, todos — com exceção de Julian — ficaram extremamente interessados com a notícia. Angeline, ávida pelo resgate do filho, falou:

— Por que um demônio raptaria nosso filho?

— Bem… eu conheço Kaptos de outras situações. Há anos matei seu irmão, Bual, e certamente pensei na época que ele iria querer vingança. Mas já faz tanto tempo! Além disso, não imagino como ele tenha realizado o sequestro — o homem pensou por alguns segundos, curioso. Logo em seguida, suspirou e se voltou para a família. — Irei resgatá-lo amanhã mesmo, logo de manhã. Não pensem que irão comigo. Vai dar tudo certo.

As crianças protestaram, mas Angeline as calou. Esta, que não tinha nenhum talento mágico, certamente sabia que não poderia ir junto, e também não queria arriscar as vidas dos outros filhos no resgate. Ava, entretanto, não era filha de Meredith. Tinha consciência de que a mulher também se preocupava com ela, mas não possuía o direito de proibi-la de fazer nada. Assim, quando todos foram se deitar, a semideusa se aproximou do pai.

— Sabe que posso ajudá-lo, pai. Afinal, sou mais poderosa até mesmo que você. Quero ir junto.

O pai começou a protestar, mas seu olhar se encontrou com o de Ava antes que o fizesse. Assim, logo percebeu que a filha não iria desistir do que queria. Levou alguns segundos para se decidir, mas finalmente cedeu.

— Esteja aqui amanhã às oito da manhã. Iremos partir antes que todos tenham acordado.

[ ... ]

— 9 de junho de 2013, localização desconhecida

Ava e o pai estavam em frente a uma caverna e, após apenas alguns segundos, a garota soube dizer com certeza que havia magia influenciando o local. Assim, quando Dimitri se adiantou e tentou adentrar pela abertura, foi barrado por algo invisível. Nada o machucava ou o prendia, mas ele simplesmente não conseguia ultrapassá-la.

— Está encantado — disse com absoluta certeza, e o pai não se deu ao trabalho de questioná-la. Sabia sobre os seus dons. — Teremos de procurar outra maneira de entrar.

Começou a analisar a parte exterior da caverna, procurando por qualquer botão ou coisa estranha. Após alguns minutos, seus olhos esbarraram em algo peculiar. Do lado da abertura, bem rente ao chão, havia uma única palavra entalhada na pedra. A semideusa não sabia qual linguagem era aquela, mas devia ser antiga o suficiente para que o demônio imaginasse que ninguém conseguisse pronunciá-la. Ava, entretanto, era diferente.

Chamando pelo seu pai, pronunciou a estranha palavra em voz alta, esperando que algo acontecesse. E de fato aconteceu. Enquanto se levantava, a abertura começava a mudar: o que antes era uma caverna vazia e comum se tornou uma passagem esculpida enfeitada com desenhos demoníacos.

— Estamos no local certo, então — sussurrou, ela mesma se apressando para entrar.

Daquela vez, conseguiram passar pela abertura sem problema algum. Ava se pôs a frente do pai, segurando seu cajado com força. À medida em que iam caminhando, tochas se acendiam com as suas presenças. Inconscientemente, a semideusa ficou se perguntando se o demônio conseguia sentir que estavam ali.

Por longos minutos caminharam sempre na mesma direção, com o silêncio perturbando suas mentes inquietas. Vez ou outra, quando os desenhos nas paredes eram horrendos demais, Dimitri soltava uma exclamação de surpresa. Foi em um desses momentos que, atenta, Ava escutou algo estranho: era como se engrenagens se movessem pelas paredes. Pensou em perguntar se o pai também estava ouvindo, mas este parecia entretido demais com as ilustrações.

— Algo está se moven... — não teve tempo de terminar a frase. Assim que o pai deu mais uns passos para a frente, ouviu o barulho se tornando cada vez maior.

Era uma armadilha! Correndo, jogou-se em cima do pai e o puxou para o chão, onde considerava que estariam seguros. No momento seguinte, densos espinhos saíram da parede, passando apenas alguns centímetros acima dos Blackthorn.

— Ava! Você está bem?

Grunhindo, confirmou brevemente com a cabeça. Esperou que os espinhos se retirassem, mas não foi o que aconteceu; eles permaneceram ali, de modo que Ava e o pai não puderam se levantar e continuar o caminho.

— Teremos que continuar o caminho rastejando. Torça para que nenhuma outra armadilha brote do chão — comentou, a voz abafada por causa do pouco espaço que tinham.

E assim o fizeram. Demorou mais do que o previsto, mas conseguiram chegar à extremidade oposta a que estavam. Logo que deixaram os espinhos para trás, se levantaram e pararam alguns segundos para descansar. Ava estava cansada, mas o pai parecia especialmente exausto. Tirando da mochila a água que levara, a semideusa a entregou para o homem e indicou que seguissem o caminho.

O longo corredor havia acabado. Naquele momento, estavam em frente a uma porta dupla de granito preto. Subitamente, o pai guardou a água no bolso e se colocou à frente de Ava. A garota não achava que era uma boa ideia, mas deixou que o homem se sentisse útil.

Desse modo, assim que Dimitri encostou na pedra negra, a porta se abriu sozinha. Ava achou estranho, mas encantador. Com passos incertos, ela e o pai adentraram pela sala escura que se encontrava à sua frente.

— Finalmente me encontraram, então! — Uma voz de repente se sobressaiu em meio ao silêncio. Era grave e divertida, como se estivesse esperando por aquele momento. — Acredito que a pequena Ava tenha sido importante… um mortal como você, Dimitri, nunca conseguiria chegar até aqui sozinho.

Quando se aproximou o suficiente do centro da sala, Ava pôde ver o que estava falando. Era uma criatura estranha: seu corpo era completamente negro, como se tivesse sido queimado pelo fogo, e seus olhos estreitos eram da cor vermelha; o sorriso no rosto ainda continha dentes brancos e conservados, o que tornava tudo ainda mais assustador. Quando a coisa se levantou, a garota pôde ver que um rabo saía de sua bunda.

— Kaptos. — Exclamou Dimitri, a raiva exalando de sua voz. — Onde está o meu filho?

Então aquele era Kaptos. Estranhamente, Ava se sentia curiosa em relação a ele, embora tivesse consciência de que deveria sentir raiva ou medo. De todo modo, nunca fora uma garotinha comum. Os 13 anos que possuía pareciam muito mais, se analisada a sua maturidade.

— Fizestes a pergunta errada, Dimitri! A certa seria: como raptei o seu pequeno Marvin? — Uma risada escapou da boca de Kaptos. — Irei respondê-la mesmo assim! Bem, nunca consegui entrar na casa de vocês por causa do feitiço que colocou nela… ninguém de fora da família conseguia entrar. Mas, naquele dia, você retirou o feitiço para a vizinha entrar e levar o garoto no médico, se lembra? Não pude perder a oportunidade!

Um silêncio se estabeleceu por alguns segundos. Tanto Ava quanto Dimitri se perguntavam como nunca tinham pensado nisso antes. Sentiu-se burra, mas tratou de focar no real problema.

— Onde está Marvin? Devolva-o para nós imediatamente!

— Ah, a pequena Ava é brava! — Desdenhou Kaptos. Logo em seguida, fez alguns movimentos com as mãos e uma jaula apareceu à sua esquerda. Lá dentro estava Marvin, dormindo. — Aqui está!

— E vai simplesmente entregá-lo para nós?

— Por incrível que pareça, tenho outros planos para vocês… e a morte de Marvin não está incluída. O que faremos é o seguinte: o entregarei a vocês, mas me darão alguma coisa em troca. O que eu escolher.

Após os Blackthorn garantirem que dariam qualquer coisa em troca de Marvin, Kaptos abriu a jaula e acordou o garoto. Este, que parecia assustado e quieto demais, arregalou os olhos quando viu os familiares.

— Papai? Ava? São vocês?

O encontro foi caloroso. Marvin correu ao encontro do pai e da irmã e, embora sorrisse para ambos, Ava percebeu que ele estava diferente. O garoto, que antes era feliz e tranquilo, parecia sério e sombrio demais. Como se estivesse traumatizado. Deixando para pensar naquilo depois, abraçou o irmão por um longo tempo; quando o momento do reencontro finalmente passou, Kaptos pigarreou. Queria que realizassem a troca.

— O que você quer, Kaptos? — Perguntou Dimitri.

Um sorriso psicótico apareceu no rosto do demônio. Logo em seguida, ele apontou para Ava.

— Quero que minha vida seja ligada à da pequena Ava. Assim, garantirei que não voltarão para tentar me matar. Pelo contrário, na verdade: até me protegerão da morte!

Ava ficou em silêncio. O que diria? A vida do irmão estava em risco. Sabia que o pai se recusaria a aceitar aquilo, mas ela não poderia fazer o mesmo. Tinha que resgatar o irmão, e não importava o custo.

— Não. Não iremos aceitar. O que te garante que não te mataremos agora mesmo, antes de ser ligado com Ava?

— Além da morte do pequeno Marvin? Bem, assim que me matarem, toda a caverna desmoronará, matando também vocês dois. Imagino que não queiram isso.

Dimitri começou a se impor, mas Ava levantou a mão para calá-lo. Dando alguns passos para a frente, encarou Kaptos nos olhos.

— Faça. Eu aceito.

— Ava, não! — Gritou o pai. Quando a garota se virou para trás, viu o rosto de Marvin, confuso e assustado. Era tudo por ele.

Ignorando o pai, novamente se voltou para Kaptos e assentiu. Os segundos seguintes foram nebulosos. Com um estalar de dedos do demônio, algo negro e esfumaçado saiu de dentro dele, pairando no ar até chegar a Ava. No momento em que se posicionou na frente de seu peito, demorou apenas um instante para desaparecer dentro da garota.

A dor foi excruciante. Lembrava-se de gritar e chorar, mas de nada mais. Tudo que havia feito era desmaiar; carregada pelo pai, chegou em casa um pouco abalada. Entretanto, quando viu os irmãos se alegrarem com a chegada de Marvin, esqueceu de tudo.

Havia valido a pena, não importasse quantos obstáculos enfrentasse dali para frente.
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Mensagem por Ava Blackthorn Sex Jul 01, 2022 9:03 pm


ascendente

A cabeça doía devido aos pesadelos, e Ava sentia os músculos pesados por causa da má noite de sono. Ainda assim, mesmo contra sua vontade, teve que se remexer na cama e acordar. Rupert, um dos irmãos, havia acabado de pular no seu colchão e a abraçava com força, distribuindo beijos carinhosos pelo seu rosto.

— Acorda, Ava! Você disse que leria cartas para mim antes de começar a trabalhar de verdade. — Comentou o garoto, animado, referindo-se ao tarô. Quando a semideusa trouxe os cobertores para cima, tapando a cabeça, Rupert começou a fazer cosquinhas nela. — Ava! Você prometeu!

Apesar do cansaço, Ava soltou uma risada incômoda por causa das cosquinhas. Com esforço, abraçou o irmão de volta.

— Cinco minutos, Rupert. Já estou descendo. — E, sem esperar pelos protestos, empurrou a criança de dez anos para fora da cama. Dando-se por vencido, ele saiu do quarto.

A família Blackthorn era naturalmente mágica, descendente das fadas, e tiravam seu sustento de uma loja de antiquários embaixo de sua enorme casa. O estabelecimento também era um dos principais da cidade quando o assunto era tarô, sendo Ava a melhor cartomante. Naquele dia, era responsabilidade sua abrir as portas do local, pois o pai levaria os gêmeos ao médico.

Tomando um banho rápido e vestindo roupas quaisquer, a prole de Hécate apenas passou um perfume rápido antes de abrir a porta do quarto e descer para tomar café. Rupert, ansioso, a esperava ao pé da escada. Portava um sorriso de orelha a orelha.

Os irmãos — a não ser por Julian, que desprezava qualquer assunto envolto à mágica — costumavam admirar sua habilidade com a magia, visto que estava entrelaçada com ela em todas as suas árvores genealógicas. Quando tratava da questão com a família, Ava costumava ser modesta, mas sabia que era realmente boa no que fazia. Justamente por causa disso, sorriu para Rupert, que ficava ansioso por qualquer demonstração de ocultismo.

Sabendo que o garoto não ia deixá-la em paz antes de obter o que queria, desistiu de tomar café. Nem estava com tanta fome mesmo. Pegou-o pela mão e desceu outro andar, chegando até os fundos do antiquário.

Estava dispersa conversando com Rupert sobre o filme novo que tinham visto, e talvez por isso não notou que não estavam sozinhos na loja, apesar de essa ainda não ter sido oficialmente aberta. No momento em que chegou à frente do estabelecimento, imediatamente estacou.

Uma mulher branca, alta e de cabelos e olhos pretos estava analisando uma escultura de anjo que Ava sequer tinha notado ainda; talvez tivesse chegado na remessa do dia anterior, imaginou. Mas sua atenção estava focada na figura desconhecida, parada ali como se fosse normal adentrar uma loja fechada. Quando a presença dos Blackthorn foi notada, a morena se virou e os encarou.

Ava não teve um bom pressentimento. Apertando a mão de Rupert, falou sem encará-lo.

— Suba para casa, Rupert.

— Mas… — O garoto começou a contestar, provavelmente na intenção de citar a leitura de cartas, mas Ava o interrompeu.

Agora. — Raramente era tão dura com os irmãos, e aquilo assustou o garoto. Além disso, sua voz devia parecer irredutível, pois Rupert soltou sua mão na mesma hora. Seus passos pesados e ressentidos puderam ser ouvidos ao subir a escada. — Quem é você?

Para a surpresa de Ava, a mulher sorriu.

— Não me reconhece, filha? — Blackthorn ergueu as sobrancelhas, confusa. Quando finalmente se deu conta de quem era, aprumou a postura e construiu muros invisíveis ao seu redor, tentando se manter inatingível. — Achou que eu não estaria de olho em você?

A garota revirou os olhos. Guardava certo rancor de Hécate, e não imaginava a possibilidade de conversar com ela como se fossem uma família normal. Na época em que o pai se envolvera com a deusa, ele havia acabado de imigrar da Irlanda e tentava construir uma nova vida em Nova Orleans. Suas condições não eram boas, e receber uma filha na sua soleira com certeza não estava em seus planos; ainda assim, o homem cuidou de Ava e fez de tudo para lhe dar o melhor futuro possível. Enquanto ele lutava para criá-la, sozinho e em um país desconhecido, a mulher apenas desaparecera.

Não era algo do qual Ava se esqueceria.

— Estava torcendo para que não estivesse. — Respondeu, sem se importar em ser mal-educada. A voz amarga deixava óbvio que a visita da deusa não era bem-vinda ali. — Algum motivo em específico para que você apareça tão de repente?

— Imaginei que pudesse fazer um favorzinho para mim. — Ao falar isso, a deusa não pareceu notar que estava sendo absurdamente ridícula ao considerar a hipótese. Justamente por isso, Blackthorn soltou uma risada debochada.

— E o que seria? — Perguntou, controlando o riso que insistia em sair. Não tinha a real intenção de fazer nada para Hécate, mas achou conveniente perguntar e suprir sua curiosidade.

Por algum motivo, Hécate hesitou. Parecia surpresa que Ava tivesse se interessado pelo assunto. Logo depois, deu de ombros e abriu a boca para falar.

— Uma sociedade secreta vem interferindo em alguns dos meus planos… — A expressão trazia raiva, e a semideusa subitamente percebeu que o assunto era sério. — Coincidentemente, a sede dela se localiza em Nova Orleans.

Ava deu de ombros.

— Certamente não é problema meu. — Disse, surpreendendo até a si mesma. Era uma garota educada, na maioria do tempo, mas a cabeça quente e a mania de agir por impulso não pareciam ser boas coisas perto de Hécate. — Vá embora. Não estou disposta a fazer nada para você.

— Ava…

— Eu disse para ir embora. — Soou distante e entediada. Hécate provavelmente percebeu, pois seu rosto se contraiu em desgosto.

Ainda assim, a mulher não insistiu mais. Abriu a porta e saiu, dando apenas um aceno de cabeça para a filha antes de se distanciar. Soltando o ar que estava prendendo, Blackthorn se apoiou em uma estante e ficou ali por alguns longos segundos. A presença da deusa, desagradável, pareceu exaurir todas as suas forças. Antes que tivesse tempo para fazer qualquer coisa, a madrasta passou pela entrada e a encarou com olhos curiosos.

— O que foi, querida? Parece irritada. — Perguntou, preocupando-se com Ava. Era uma mulher amorosa, e sua voz acalmou a semideusa. Em vista disso, a menina balançou a cabeça em negativa, indicando que nada tinha ocorrido. — Tem certeza?

— Não se preocupe, Meredith. — Sorriu, embora desconfiasse de que o sorriso estava afetado. Quando desviou os olhos, estes repousaram sobre o objeto que Hécate analisava no momento em que Ava adentrara o estabelecimento.

Era uma escultura de anjo de, no máximo, vinte centímetros de altura. Suas asas estavam abertas, se erguendo atrás das costas, e a mão estendida possuía um olho desenhado. As íris do objeto chamaram a atenção de Ava, visto que possuíam uma cor roxa profunda.

— O que é aquilo ali? — Perguntou, apontando para a estátua.

Meredith deu de ombros.

— Chegou ontem. Esses olhos seguem as pessoas, parecendo a Monalisa. O antigo dono não quis mais porque lhe dava pesadelos.

Ava pensou naquilo por alguns segundos, mas não achou nenhum motivo em especial para que Hécate estivesse atenta ao objeto. Talvez só tivesse o achado interessante, afinal. Desistindo do assunto, finalmente abriu a loja e começou a trabalhar.

Não pensou mais no assunto, mas a noite chegaria para mudar aquele fato.

[ … ]

Após o trabalho, subiu para o seu quarto para tomar banho e poder jantar. Não costumava trabalhar durante a tarde, mas, com os gêmeos doentes, tinha ficado feliz em cuidar da loja durante o dia inteiro para que o pai pudesse dar atenção a eles. Ainda assim, sentia-se exausta. A água quente certamente ajudou e, quando saiu do chuveiro, estava definitivamente melhor.

Antes que pudesse se vestir, entretanto, notou algo que anteriormente havia lhe passado despercebido. A mesinha da cabeceira possuía algo em cima, mas a garota estava praticamente certa de que não tinha deixado nada ali. Dessa forma, aproximou-se com certa lentidão.

Ficou surpresa ao ver o que era: um anjo bem parecido com o que vira mais cedo no antiquário estava ali, com os mesmos olhos roxos, mas era consideravelmente menor, com uns cinco centímetros; embaixo dele, um papel retangular estava repousado. Ava o pegou, ansiosa.

Era um convite. O papel duro e amarelado exibia uma lua roxa, acompanhada do nome Ordem Hermética da Lua Roxa; embaixo, um endereço e uma data eram exibidos. Não dizia mais nada, mas era o suficiente para Blackthorn saber que estava sendo convidada. Demorou-se alguns segundos analisando aquilo, considerando a hipótese. Não tinha nada para fazer no outro dia mesmo, certo? Não custava nada matar a sua curiosidade…

Com aquilo na cabeça, desceu para jantar. Os seis irmãos, o pai e a madrasta já estavam sentados, apenas a esperando para comer. O primeiro quem a viu foi Rupert, que logo correu para abraçá-la.

— Olá, Ava. Fez muita magia hoje? — Disse Eleonor, de apenas cinco anos, curiosa e sempre muito comunicativa. Sequer parecia estar doente. O gêmeo ao seu lado, Elliot, estava mais pálido e calado do que o normal.

Ava sorriu.

— Por favor, não vamos falar dessa besteira de magia logo no jantar. Ainda quero ter apetite para comer. — Resmungou Julian. Encarava Ava com olhos raivosos, como se ela fosse a culpada por aquilo. Com quinze anos, era o mais velho após Ava.

— Você é tão infantil, Julian. — Nerissa, com treze anos, sempre se achava superior a todos. Revirou os olhos e, ao notar a refeição chegando à mesa, deixou de lado os irmãos e focou em seu prato.

Ao se sentar, os olhos de Ava foram direto para Marvin. Era sempre sério e sombrio, provavelmente traumatizado pelo tempo que passara sequestrado pelo demônio Kaptos. Era por causa dele que a semideusa possuía uma ligação com aquele ser desprezível, uma vez que se sacrificara em prol do irmão; apesar de parecer sempre distante, o garoto demonstrava gratidão à menina sempre que estava disposto — mas ele raramente estava.

— Como está se sentindo, Marvin? — Perguntou, embora soubesse já há muito tempo que ele nunca era sincero em sua resposta. Levantando os olhos pretos, ele a encarou.

— Bem. — Era o máximo que Ava podia esperar dele.

Suspirando alto, sua mente imediatamente vagou para o presente em cima de sua escrivaninha. Durante todo o jantar, pensou sobre o assunto. Apenas quando já estava quase acabando foi que tomou coragem para falar, interrompendo a conversa sobre como Eleonor planejava ser uma princesa.

— Pai? — Dimitri Blackthorn olhou para a filha na mesma hora, sorrindo. Era sempre atencioso e dedicado. — Já ouviu falar sobre alguma ordem hermética aqui em Nova Orleans?

O pai pareceu intrigado com a pergunta. Nerissa e Rupert imediatamente começaram a prestar atenção na conversa, mas, fora isso, todos estavam preocupados demais com os próprios assuntos. Após alguns segundos, o homem respondeu.

— Creio que não, Ava. Se é hermética, provavelmente apenas os membros sabem de sua existência. — Voltou-se para sua comida, embora tivesse a expressão de quem queria perguntar algo. Quando a semideusa achou que ele tinha realmente desistido, o homem levantou a cabeça e franziu a testa. — Não se meteu em problemas, né?

Ava largou o garfo, pensativa. Havia se metido em problemas? Bom, ela achava que não. Decidindo não preocupar o pai, deu de ombros e sorriu.

— Estava apenas curiosa. Não se preocupe.

Conhecendo a filha que tinha, Dimitri com certeza não acreditara naquelas palavras. Ainda assim, assentiu e voltou a comer.

[ … ]

Não sabia que roupa vestir, então colocou um vestido preto que tapava metade das coxas e amarrou o cabelo num rabo de cavalo. As botas nos pés fizeram barulho contra a escada e, quando o pai saiu para ver se era alguma das crianças, Ava apenas disse que voltaria tarde naquela noite. O homem pouco se importou, então a menina continuou descendo.

No momento em que chegou ao endereço indicado no convite, percebeu que tinha feito a escolha certa ao vestir um vestido ao invés de uma calça. As pessoas ao seu redor, embora fossem de diversas idades, estavam todas elegantes e bem arrumadas.

Na portaria, indicou o convite para a recepcionista, e só então sua entrada foi permitida. Todos os presentes pareciam prestar bastante atenção em Ava, para sua surpresa, mas a menina não se sentiu incomodada. Talvez fossem semideuses; se fosse o caso, poderiam conhecê-la do tal reality que participara há pouco tempo.

As cadeiras estavam espalhadas pelo salão, e Blackthorn sentou-se num canto mais afastado. Após poucos minutos, o silêncio começou a dominar o ambiente e um homem moreno subiu ao palco que se encontrava à frente do público. Parecia ter por volta dos trinta anos, mas era absurdamente bonito e charmoso.

— Sejam todos muito bem-vindos. Para aqueles que estão aqui pela primeira vez… — A voz grossa e imponente falou como se fosse o caso de vários dos presentes, mas seus olhos se encontraram diretamente com os de Ava, surpreendendo-a. — Irei explicar quem somos. A Ordem Hermética da Lua Roxa é, como o nome diz, uma sociedade secreta. Nos juntamos para aprender, praticar e celebrar a magia. A maioria de nós é mortal, mas todos estão cientes sobre o mundo semidivino.

O homem deu uma pausa e, ao olhar ao redor, Ava percebeu que as pessoas sorriam e concordavam com a cabeça. Agiam como se venerassem a figura em cima do palco.

— Meu nome é Adam Petrovich, o Primum Magus da Ordem. — O que quer que aquilo fosse, Ava achou que parecia ser importante. Sua atenção não se prendeu ao título, entretanto, pois Adam novamente a encarava. — Há muito tempo não encontramos Ascendentes, ou seja, indivíduos que considero promissores para fazer parte da Ordem. As pessoas estão se tornando céticas em relação à magia…

Sua voz pareceu triste. Quando falou novamente, contudo, já estava empolgado e abrindo um sorriso no rosto. Blackthorn se surpreendeu com a sua súbita mudança de humor, e então ergueu uma sobrancelha.

— Após três anos, contudo, encontrei uma possível Ascendente… — Limpou a garganta, fazendo suspense. Antes de falar de novo, sua mão aberta se estendeu para algum lugar na plateia. Para Ava. — Ava Blackthorn.

Todos os olhos se voltaram para ela. Surpresa e congelada no próprio assento, Ava demorou ao menos cinco segundos para perceber que os outros esperavam que fosse até o palco. Quando achou que estava fazendo papel de tola, sentada parada ali, sorriu e se levantou com elegância, tentando transpassar maturidade. Os passos até Adam foram confiantes.

Era uma garota qualquer de Nova Orleans, mas a vida ao lado de seis irmãos mais novos certamente a acostumou a receber muita atenção. Sempre sabia como reagir ao inesperado, portar-se com elegância e controlar a situação ao seu favor. Talvez pudessem lhe considerar um pouco manipuladora, mas ela achava que era apenas esperta.

No momento em que chegou ao palco, Adam estendeu a mão direita para a semideusa, e esta a aceitou sem hesitar. Um sorriso bastante convincente estampava o rosto da negra.

— Ava Blackthorn. — O homem repetiu, os olhos agora focados apenas na semideusa. — Ao se tornar Ascendente, você não fará parte definitivamente da Ordem. Você precisará estudar a história, leis e hierarquia da nossa sociedade e, para isso, o nosso templo e membros ficarão disponíveis para você. Seu treinamento somente começará quando você passar pelo seu ritual de iniciação, tornando-se uma Acólita.

Ele a encarou, perguntando silenciosamente se ela havia entendido os termos. Ava concordou, pois tudo era bastante simples. Mesmo assim, ainda não tinha certeza absoluta se queria aceitar o que estava sendo lhe oferecido. Não tinha nada a perder, mas o que teria a ganhar? Era uma filha de Hécate, provavelmente sabia mais magia do que todos os presentes naquela sala.

— Você aceita se tornar uma Ascendente, Ava? — A pergunta foi feita em tom formal. Ao analisar os olhos do homem, ela percebeu uma leve mudança de cor.

Talvez ele não fosse um mortal, afinal. Talvez realmente pudesse ensiná-la coisas que ela não sabia. De toda forma, era o suficiente para que resolvesse aceitar?

De repente, quando estava prestes a perguntar se podia pensar melhor, palavras que saíram da boca de Hécate invadiram sua mente: "uma sociedade secreta vem interferindo em alguns dos meus planos…"

Com um súbito sorriso, os olhos de Ava brilharam.

— Aceito.
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Mensagem por Ava Blackthorn Sex Jul 01, 2022 9:11 pm


pérfida

dois meses atrás;

A rotina de Ava estava corrida, para dizer o mínimo.

Ela dava o melhor de si para realizar todas as suas obrigações com maestria, mas vez ou outra acabava se deixando relaxar e curtir alguns minutos de descanso. Naquele momento, sentada na biblioteca da sociedade secreta para a qual tinha entrado — a Ordem —, cantarolava baixinho um jazz que havia aprendido no saxofone recentemente. O livro que anteriormente lia se encontrava à sua frente, embora abandonado, e as páginas velhas e encardidas pouco chamavam a atenção da semideusa.

Não saberia dizer ao certo no que estava pensando, se fosse perguntada, mas com certeza não era nada relacionado à magia. Deveria saber, contudo, que para uma garota amaldiçoada como ela, distração significava invasão. Sua mente costumava involuntariamente vagar para as visões de Kaptos, o demônio com o qual estava ligada. E mesmo que odiasse aquela experiência, não conseguia controlá-la. Estava eternamente condenada àquilo.

Quando se deu por si, seus olhos não captavam mais as estantes altas da biblioteca, ou nem mesmo as paredes escuras do ambiente. Na verdade, estava em um local totalmente desconhecido, e assistia a toda a cena como se fosse o próprio Kaptos. À sua frente, uma mulher loira e de olhos bicolores a encarava com seriedade.

— Irei matá-lo, Kaptos, se ousar chegar perto de uma de minhas feiticeiras novamente — disse a desconhecida.

Ava certamente não sabia quem era aquela mulher, mas seu tom de voz indicava que a ameaça deveria ser tratada com seriedade. Apesar disso, o demônio contrariou qualquer expectativa e apenas riu.

— Se você me matar, Circe, estará também matando uma semideusa inocente. — Sem muito esforço, Blackthorn soube que Kaptos estava se referindo a ela. Afinal, as vidas de ambos eram ligadas. Se um morresse, o mesmo aconteceria com o outro. — Não que você se importe, obviamente.

Ava, por um momento, sentiu medo por si mesma. Não queria morrer. Antes que tivesse tempo para refletir, entretanto, o demônio desapareceu em sombras, sumindo da frente de Circe. Consequentemente, a semideusa foi retirada da visão, e subitamente encontrou-se novamente na biblioteca. Confusa, teve que piscar diversas vezes para se situar.

Mesmo que odiasse Kaptos, torceu para que Circe jamais o encontrasse novamente e, desse modo, não o matasse.

Sua vida dependia daquilo.

[ … ]

Passou o resto do dia um pouco transtornada, sua mente vagando para a visão que tivera mais cedo, e tampouco conseguiu ler qualquer outro livro. Ao entardecer, cansada de pensar naquele assunto, passou em casa para pegar seu saxofone e se dirigiu para Bourbon Street, onde costumava tocar em um dos bares.

A música tinha o poder de fazê-la se esquecer de qualquer preocupação e, entre um gole e outro de bourbon, sua bebida alcoólica preferida, a noite foi bastante agradável. Estava um pouco alterada no momento de voltar para casa e, embora estivesse acostumada a fazer aquele caminho e nunca se perdesse, não foi capaz de captar os detalhes do que acontecia ao seu redor. Sendo assim, quando uma mulher a interceptou em um beco escuro e vazio, ficou surpresa por não ter notado sua presença antes.

Demorou cerca de cinco segundos para perceber as características da mulher, tão idênticas às que lhe apavoraram mais cedo: cabelos loiros e olhos bicolores. Uma exclamação de surpresa escapou de sua boca, e Ava controlou o impulso de bater na própria testa. Como fora estúpida! Se Circe queria matar Kaptos, não era necessário encontrá-lo ou sequer assassiná-lo; já bastava que fizesse aquilo com a própria semideusa. O demônio, burro como era, havia dado à deusa a chave para sua própria destruição.

— Você parece transtornada. Talvez tenha me reconhecido. — A mulher comentou, interessada.

— Tive a sorte de assistir à conversa que você e Kaptos tiveram mais cedo. — Apesar do medo óbvio, a voz saiu firme e debochada.

Por qualquer motivo que fosse, os olhos de Circe brilharam. Ava pensou em perguntar o motivo, mas resolveu ficar quieta. Talvez devesse tentar agir como uma garotinha inocente e indefesa que só queria viver a sua vida em paz, e então a deusa teria dó dela. Contudo, segundos após ter aquela ideia, percebeu que era de uma tolice extrema. Deuses não tinham dó de ninguém!

— Então já sabe os motivos que possuo. Se eu tiver você, facilmente controlaria aquele demônio infeliz…

Então Circe não queria matá-la, mas sim sequestrá-la. Para quem estava acostumada com a liberdade, aquilo era ainda pior. Subitamente irritada, Blackthorn revirou os olhos e fez menção de seguir seu percurso, mas a deusa se colocou em seu caminho. Por causa da colisão, a case do saxofone soltou-se da mão da semideusa, e esta dobrou-se para a frente rapidamente a fim recuperá-la.

Com alívio, envolveu ambos os braços ao redor do objeto, mas viu algo caindo do bolso de sua jaqueta. Demorou para perceber o que era: a carta da Ordem, aquela que havia sido seu convite de entrada para a primeira reunião. Abaixou-se com urgência para pegá-la, mas os olhos de Circe já observavam o objeto com atenção.

— Você faz parte da Ordem? — A mulher parecia surpresa, o que também aguçou a curiosidade da filha de Hécate.

— Qual é o do interesse de todo mundo nisso, afinal? — Perguntou displicentemente, embora realmente desejasse saber a resposta. Fingindo desinteresse, guardou a carta novamente em seu bolso.

Circe ergueu uma sobrancelha.

— Todo mundo?

Ava pensou em dizer que Hécate havia lhe procurado alguns meses atrás, pedindo justamente para que interferisse na Ordem, mas percebeu de repente que não devia explicação nenhuma para Circe. Sendo assim, deu de ombros e ficou calada, ignorando a pergunta que tinha sido direcionada a ela.

Parecendo aceitar que não receberia uma resposta, a deusa desviou os olhos e adotou uma expressão pensativa.

— Acho que acabei de mudar minhas prioridades… — A mulher parecia estar falando consigo mesma, então Blackthorn não se deu ao trabalho de questionar o que aquilo significava. — Imagino que você possa espionar a Ordem para mim.

Implicitamente, aquilo significava que, caso Ava espionasse a Ordem, não seria sequestrada e usada como uma forma de manipular Kaptos. De qualquer forma, não admitindo que estava sendo obrigada a fazer algo, deu de ombros.

— Já recusei a proposta de Hécate muito antes de você me abordar. Não imagino por qual motivo acha que irei te ajudar.

— Você já tem tudo que Hécate poderia oferecer. Eu, por outro lado, posso te fornecer ainda mais poderes e proteção. Soube que você tem interesse em magia…

Ava tinha muito interesse, pra falar a verdade.

Por um segundo, refletiu. Ela gostava de fazer parte da Ordem, gostava mesmo! Adam, o líder da sociedade, era uma pessoa intrigante e habilidosa magicamente; mesmo assim, ele era nada se comparado a Circe. E, embora Ava não quisesse o mal de ninguém, estava muito mais interessada no seu próprio bem.

No final, não se importava realmente com o que aconteceria caso espionasse a Ordem. Ter ainda mais poder e magia disponíveis em suas mãos já era motivo o suficiente para traí-los. Ao contrário de Hécate, por quem Ava só sentia desprezo, Circe era bastante convidativa e convincente.

— Acho que você está certa, afinal. — Sorriu, embora fosse apenas para passar uma imagem menos desagradável. — O que preciso fazer?

[ … ]

Circe havia explicado tudo o que Ava deveria fazer. Eram coisas básicas, na verdade. Possuía dois adesivos de lua nova, e cada um deveria ser colado em um lugar diferente: primeiro no salão de reuniões, depois no escritório de Adam.

Durante a noite, enquanto tentava dormir, a semideusa quase se sentiu culpada por estar fazendo aquilo. Pouco conhecia o resto dos integrantes da sociedade, mas Adam havia sido gentil com ela; não queria prejudicá-lo de forma alguma. Quem sabe o que aconteceria depois que pregasse o tal adesivo nos devidos locais? Não estava nem aí se seria descoberta ou não, porque Circe havia dito que a protegeria, mas tinha a horrível impressão de que o líder da sociedade sairia drasticamente no prejuízo.

E, afinal, realmente queria saber por que Hécate e Circe pareciam ter tanto interesse na Ordem. A mãe dissera que a sociedade interferira em alguns de seus planos, mas a possível patrona não dera nenhuma explicação sobre seus motivos. Sem nenhuma verdade na qual basear sua moralidade, a semideusa acabava se sentindo perdida. Não tinha nem noção de quem era o vilão da história. E, na verdade, nem sabia se existia mesmo heróis e vilões. Não era tudo uma questão de perspectiva?

Mas, se parasse para analisar as ações de cada um dos envolvidos na situação, sentia-se extremamente inclinada a ajudar Circe. A mulher confiara nela para aquela missão que parecia tão importante, enquanto Adam somente a acolhera como uma aprendiz qualquer, embora estivesse longe de ser somente aquilo! Era bem mais poderosa e tinha muito mais conhecimento sobre magia do que a maioria dos mortais naquela sociedade. Merecia, no mínimo, um cargo bem alto e com bastante prestígio.

Além disso, caso Adam tivesse qualquer oportunidade de prejudicá-la para ganhar mais poder, ele provavelmente a agarraria sem pensar duas vezes. Sim, estava plenamente convicta daquilo.

Com sua decisão praticamente tomada, Ava levantou-se da cama e rumou para o quarto de Nerissa, uma entre seus cinco irmãos. Passou pela sua mente que, para pedir a opinião da irmã de apenas treze anos, deveria estar realmente desesperada. Mas não se importou muito.

Mesmo que não fosse admitir, iria perguntar justamente para Nerissa porque ela costumava ter os deveres morais meio distorcidos. Sem bater, abriu a porta e entrou. Rapidamente se enfiou debaixo da coberta da garota e, antes que a cutucasse para que acordasse, ouviu sua voz reclamando.

Sorriu. A irmã era naturalmente noturna, e passava boa parte da noite acordada. Sorte a de Ava.

— Nerissa, estou precisando da sua opinião em algo. Juro que é rápido.

Podia se falar o que quisesse da família Blackthorn, mas todos sabiam que eram bastante unidos. Ava faria qualquer coisa pelo seu pai, madrasta e irmãos, e a recíproca era completamente verdadeira. Nerissa, que costumava sempre apresentar um complexo de superioridade, tornou-se imediatamente prestativa quando ouviu a preocupação na voz da semideusa.

— O que aconteceu?

— Nada ainda. Mas preciso tomar uma decisão, e você é a única capaz de tirar o peso da minha consciência.

Nerissa riu.

— Diga, então.

— Certo… Eu posso aprofundar muito meus conhecimentos em magia, mas para isso eu provavelmente preciso prejudicar alguém. — Por um momento, Ava agradeceu pela família que tinha. Eram todos descendentes de fadas e, portanto, naturalmente mágicos. Sendo assim, podia falar com eles livremente sobre o assunto. — Já tomei minha decisão, mas vai que você tem algo relevante a dizer.

— Não seja boba, A. Tirando a família, ninguém pensaria em você com tanta consideração. — As irmãs estavam no escuro, mas a filha de Hécate sabia que Nerissa havia revirado os olhos. — Prejudique quem precisar para alcançar os seus sonhos.

Nerissa provavelmente deveria ter razão. Ava estava mesmo sendo boba. Com a consciência mais limpa, a semideusa agradeceu e deu um beijo na cabeça da irmã antes de se retirar para o seu próprio quarto.

[ … ]

Colar o adesivo na parede do salão de reuniões fora fácil, uma vez que o acesso era livremente permitido; assim que Ava o fez, discretamente, o objeto se tornou totalmente invisível, o que a agradou bastante. Sua segunda missão, entretanto, demandava um pouco mais de esforço, visto que teria que entrar no escritório pessoal de Adam, o líder da Ordem.

Fingindo casualidade, a semideusa se dirigiu para o local em questão e bateu na porta. Demorou apenas alguns segundos para o homem a abrir com mágica, sem sequer se levantar de sua mesa. Quando ele percebeu que era Ava quem chamara, mudou a expressão mal-humorada para uma sorridente.

— Ah! Olá, Ava. Tenho mesmo assuntos a tratar com você. Por favor, entre.

Ava também sorriu, embora não sentisse vontade. Agindo o mais naturalmente possível — e tinha absoluta certeza de que era uma boa atriz —, adentrou a sala e se posicionou em frente à mesa de Adam.

— Bom, infelizmente não posso dizer o mesmo. Apenas quis vir te ver um pouco. — Havia pensado em muitas desculpas para estar ali, mas nenhuma parecia boa o bastante. No final, se contentou com uma meia verdade: não tinha nada para falar, mas desejava ver Adam. Pelos motivos errados, contudo. — Espero que não se incomode.

Adam pareceu surpreso, mas definitivamente de uma forma boa.

— Longe disso, A. Estou bastante feliz com essa visita sem motivo.

Ava deu um sorriso que beirava a obscenidade. O uso de seu apelido fez seu estômago se revirar, mas ela se repreendeu mentalmente. Estava ali para traí-lo, não para querer beijá-lo a qualquer momento. De toda forma, mantendo a pose, aproximou-se mais da mesa e encarou o homem com olhos curiosos.

— O que você tem para tratar comigo? Confesso que me deixou curiosa.

Como quem se lembra subitamente de lago, Adam levantou as sobrancelhas e se abaixou para remexer em uma gaveta. Aproveitando a oportunidade, Ava tirou a mão direita de trás das costas, onde estava o adesivo, e a levou até debaixo do tampo da mesa. Deixou que o objeto se colasse ali permanentemente.

Sentiu-se novamente mal pela situação, mas manteve-se firme. Não iria voltar atrás em sua decisão.

— Aqui está. — Adam se ergueu novamente, estendendo um papel para Ava. Ao pegá-lo, a garota viu que era um manual. — São as instruções sobre como se seguirá seu ritual de iniciação na Ordem. Você está indo muito bem, melhor do que qualquer outro um dia foi, então imaginei que iria querer fazer isso logo…

Claro, ela tinha que ser iniciada numa sociedade que estava traindo.

— Claro! Mal vejo a hora de ganhar minha Marca. — Não era verdade. Sequer tinha interesse nisso, mas precisava de algo para falar.

A Marca era inútil para ela, afinal. No caso dos mortais que faziam parte da Ordem, ela servia para canalizar o poder e permitir a realização da magia. Ava, porém, era naturalmente mágica, e não precisava daquilo.

— Sobre isso, não se preocupe. Sua Marca será diferente, como a minha, pois não precisamos dela para fazer magia.

Adam era um filho de Hécate, como Ava, mas ela convenientemente se esquecia disso. Gostava de flertar com o homem, e por isso resolvera ignorar que eram irmãos. Sequer considerava a mãe mesmo… Além disso, também achava estranho ter um semideus num local tão mortal quanto aquele; embora fosse mágica, a Ordem não se relacionava em nada com o mundo semidivino — até onde sabia —, e isso podia ser confuso para a semideusa.

Mesmo que quisesse perguntar sobre a Marca de Adam, sabia que não receberia resposta alguma. Dessa forma, deu mais um de seus sorrisos obscenos e se despediu, indo para casa logo em seguida. O antiquário se localizava bem abaixo de sua residência, contudo, e uma mulher loira bem conhecida estava esperando por Ava ali.

— Você conseguiu.

Ava deu de ombros.

— É óbvio que consegui.

— Vejo que é modesta também.

Apesar do sorriso de Circe, Blackthorn não retribuiu. Na verdade, estava fazendo uma expressão de dúvida que provavelmente era bastante irritante.

— O que vai acontecer com a Ordem agora? — Após dizer as palavras, percebeu que não era exatamente aquela sua preocupação. Sendo assim, tomou coragem para reformular. — O que vai acontecer com Adam?

— Isso não te diz respeito.

— É claro que diz. Sou eu quem estou te ajudando. — A voz de Ava já começava a exibir traços de irritação, e ela teve que respirar uma ou duas vezes para se acalmar.

— E você será devidamente recompensada por isso. Já não é o bastante?

Não. Não era, porque gostava de Adam e não queria causar nada de muito ruim a ele. Mesmo que não desse aquela resposta, desconfiava que Circe já sabia da verdade. De toda forma, deu de ombros e desviou o olhar.

— Tanto faz.

Circe novamente sorriu, mas parecia a contragosto.

— Sendo assim, seja bem-vinda às Feiticeiras, Ava.

Ava se permitiu sorrir. Mas, para falar a verdade, não dava a mínima para as Feiticeiras ou para Circe, e a deusa certamente tinha noção disso. Na verdade, uma precisava da outra para objetivos pessoais, e aquilo não parecia uma vantagem que poderia ser ignorada.

No final, as únicas coisas que Ava desejava era poder e magia.
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